Por Madoeno Silva - Presidente da AEISCJS
Qualquer atividade do
associativismo carrega a exigência ética da superação do conhecimento,
elevando-o a um caminho em prol de uma academia de causas. Foi assim que
me apercebi que a minha relação com a comunidade acadêmica é, deveras,
um encontro onde há partilhas de amizade, conhecimento, saberes, e
sobretudo no ponto onde há maior convergência: de elevar o ensino
cabo-verdiano aos patamares da eficiência.
Espera-se ainda muito do associativismo
estudantil em Cabo Verde, mas acredito que com o passar do tempo vão se
construindo caminhos para a modernidade, que ruma em direcção ao
desenvolvimento, num incentivo à organização dos jovens e no estímulo à
iniciativa universitária que gera obrigatoriamente uma maior eficácia na
transformação das realidades sociais, tornando na nossa principal arma
de defesa os interesses do colectivo.
A percepção que eu tenho do associativismo estudantil
impõe-me um caminho de novos paradigmas, para aprender e reavaliar como
desenvolver uma visão equilibrada na forma de encarar o mundo
universitário. Este caminho não se faz com um estalar de dedos ou a
simples mudança de líder. Isso faz-se com reflexão, exigência e muito
trabalho, mas também com a abertura ao diálogo, parceria fundamental
para a vida académica e para a juventude cabo-verdiana, opondo a força
dos dinossauros à ganância produtiva das universidades capitalistas em
pleno período de industrialização massiva no mundo.
Tomei a liberdade de escrever este artigo para
partilhar, com todos os estudantes universitários, a minha preocupação
em relação ao futuro do associativismo estudantil em Cabo Verde.
Suscita, assim, algumas questões que são pertinentes. Onde estamos? Para
onde se caminha? E onde queremos chegar?
Perante esta causa, proponho que o associativismo
estudantil dê o salto e se assuma como uma academia forte, e esteja na
linha de frente assumindo o firme compromisso de trabalhar, para que se
possa criar as condições para uma verdadeira Federação da Associação de
Estudantes Universitários, onde todos terão a voz e a vez de propor e
fazer valer as suas ideias.
Para atingir este objectivo é necessário revitalizar o
associativismo estudantil, incentivar a comunidade académica e as
associações de estudantes, de modo a trazer uma maior força e capacidade
representativa da nossa classe, transformando assim o associativismo no
símbolo do nosso dinamismo e da nossa energia.
Um outro objectivo importante é a sua restruturação.
Tenho por mim que é necessário propor uma remodelação da estrutura
directiva com o intuito de descentralizar as tarefas, permitindo uma
melhor coordenação e, sobretudo, uma maior aproximação e união dos
estudantes universitários.
Para que o papel do associativismo estudantil possa ser
assumido de forma plena nas universidades, torna-se necessário que seja
aprofundado o debate sobre este tema onde a diversificação de dinâmicas
sociais, a criatividade, a vontade de fazer têm que estar sempre
presentes nos estudantes de forma a estreitar o diálogo com os
parceiros, abrindo espaço à participação cívica e à vivência da
cidadania de forma activa na construção de uma sociedade mais
desenvolvida.
Por tudo isto, não podemos abdicar da nossa
responsabilidade de promover o desenvolvimento do associativismo, bem
como defender os valores da liberdade, do progresso, da democracia, da
igualdade e solidariedade para construirmos juntos uma frente de acção
associativa ampla e dinâmica, pois propomos advogar e debater por uma
academia esclarecida, participativa, mobilizadora e com mais
oportunidades para todos os estudantes.
Este é o espírito que deverá existir em cada um de nós
jovens e estudantes. Manter vivo o associativismo estudantil é, sem
dúvida, manter vivos os espaços de educação para a cidadania. Ser
associativista é, portanto, sentir que somos um elo de uma corrente
composta por muitos outros elos.
Como representante dos estudantes do Instituto Superior
de Ciências Jurídicas e Sociais, estou especialmente atento à reforma
que tem de ser feita no ensino superior cabo-verdiano: desde o processo
de Bolonha, o sistema de avaliação e creditação, o regime jurídico das
Instituições de ensino superior sem perder nem a sua identidade nem a
sua finalidade própria, especialmente disponíveis e comprometidos para
pensar a educação, o país, o mercado laboral e o futuro, fazendo-o em
comum com o Ministério do Ensino Superior, Ciência e Inovação, que tem
vindo a acompanhar a par e passo os problemas e ideias dos estudantes,
reflectindo e debatendo serenamente, contribuindo desta forma para
consensos alargados.
Efectivamente, a criação da Federação da Associação de
Estudantes Universitários, bem como a participação na definição da
política educativa em todas as matérias respeitantes ao ensino superior,
revelam-se como de extrema importância, para que se possa dar um salto
qualitativo a caminho da excelência, que passa indubitavelmente pelo
ingresso na carreira profissional.
Este é o caminho que devemos percorrer, sendo necessário
passar das estratégias à acção. Sermos nós próprios a definir o nosso
caminho, pois “o sucesso não está no fim da jornada, e sim em cada curva
do caminho que percorremos para encontrá-lo”.
Como se costuma dizer, nós somos a força da juventude e a
juventude tem sido a nossa força, “não há vento favorável para aquele
que não tenha rumo certo”. Vamos juntos construir o futuro, agora, e ter
esperança de que este será melhor com base nos verdadeiros valores,
tomando consciência, desde cedo, dos direitos e deveres que cada qual
deve respeitar para que haja uma maior equidade académica.
Fonte: Jornal Asemana
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