Kay Aoki, 26 anos, filho de mãe inglesa e pai japonês, escolheu a morna como tema da sua tese de doutoramento pela Universidade de Kyoto, Japão. Esse nipónico, que é mestre em Estudos Lusófonos, apaixonou-se por este género musical cabo-verdiano “à primeira escuta”, graças a um álbum de Cesária Évora, oferecido por um professor de língua francesa. Conquistado, Kay resolveu mergulhar na origem da morna e transformar essa aventura numa tese académica.
Morna, “música rainha de nôs terra”, como cantou Ildo Lobo, fez Kay Aoki, um japonês, pisar pela segunda vez Cabo Verde, sendo a primeira em 2012, quando fazia a sua tese de mestrado. Segundo diz, na altura, foi apenas uma viagem para conhecer o modo de viver dos cabo-verdianos e saber de onde vinha Cesária Évora, a diva que ajudou a espalhar o ritmo e a dolência da morna pelos mais cantos do mundo.
Em relação ao seu estudo, Kay Aoki afirma que o seu interesse particular é saber como é que a morna está a desenvolver-se. “Durante seis meses, através de várias entrevistas, quis saber junto dos músicos que compõem ou interpretam a morna, e também junto das pessoas comuns, como é que eles vêm, vivem e sentem este género de música”.
Se as entrevistas permitiram a este académico uma percepção sobre o “sentir” da morna, Aoki não diz o mesmo em relação aos documentos, pois há poucos estudos sobre o principal género musical cabo-verdiano, o que não deixa de ser um paradoxo e um desafio para os académicos cabo-verdianos. “Porém, longe de me desmotivar, este facto acabou por se tornar na motivação principal para eu fazer um estudo acerca da morna e da sua crioulização”, afirma Aoki. “Com o meu trabalho espero contribuir para um melhor conhecimento da morna, sobretudo agora que se fala na sua elevação a património da humanidade pela UNESCO”.
Este investigador afirma ainda que o facto de a morna revelar o que define os cabo-verdianos, por falar de sentimentos, saudade e vivência desse povo, torna ainda mais importante o seu valor espiritual e cultural.
Morna: tradicional versus moderno
Durante as pesquisas que realizou no terreno, Kay Aoki diz que conseguiu identificar dois tipos de morna: uma tradicional e outra moderna. “Das entrevistas que fiz com várias pessoas fiquei a saber que o essencial da morna não se perdeu, manteve-se através dos sentimentos. Temos o exemplo as palavras saudade, morabeza e cretcheu que, de certa forma, se mostram sempre interligadas”, aponta.
De acordo com Aoki, a saudade é um sentimento que marca a emigração, “seja ela pelo cretcheu (amor) ou pela morabeza”, já que a nostalgia que se nota nas letras da música é algo “muito forte e profundo”. “Realmente, a morna define bem a identidade dos cabo-verdianos”, frisa.
Aoki define os dois conceitos: morna tradicional e moderna, devido às misturas que vem identificando ao longo de suas pesquisas. “Pelo que pude perceber, os cantores ou intérpretes podem até cantar as mesmas composições, com fusões e outras soluções, mas, musicalmente falando, a essência mantém-se, e isso é bom porque dá espaço para que a morna seja trabalhada, mesmo que numa outra perspetiva, através de uma versão moderna, se se quiser”, explica, acrescentando que é comum perceber a introdução do jazz nalgumas das canções que estudou, o que por si atesta a plasticidade musical da morna.
Apesar de constatar tal facto, este estudioso da morna, vindo do outro lado do mundo, diz que encontrou muitos cépticos entre os tradicionalistas que são contra a “modernização” da morna. “Há músicos que não gostam de misturas, consideram que resultado disso não é morna, contrariamente aos mais jovens, que se mostram dispostos a partir da morna tentar outras soluções”.
E acrescenta: “Em qualquer parte do mundo, e Cabo Verde não foge á regra, é normal essa tendência, aliás, é interessante uma vez que dessa forma a morna está a desenvolver-se musicalmente. Esses jovens inovadores trazem as influências das outras realidades culturais e, pouco a pouco, acabam por se juntar com a morna, sem que esta perca a sua essência”.
Sentimento nostálgico
Kay Aoki diz que ao longo do seu trabalho deu-se conta da nostalgia que a morna faz as pessoas sentir. Por essa razão, e por gostar de trabalhar temas muito diferentes da sua cultura, escolheu justamente a morna, e justamente Cabo Verde, para perceber de onde vem todo esse sentimento ancestral.
Essa vontade surgiu ainda mais depois que, em 2008, conheceu em Coimbra, Portugal, muitos estudantes cabo-verdianos, na sua maioria jovens, que lhe falaram sobre esse género musical. “Foi aí que definitivamente a morna conquistou meus ouvidos e o meu coração”, confessa.
Segundo Kay Aoki, os seus entrevistados atestam que quando os cabo-verdianos estão fora do arquipélago natal são tomados por um sentimento que os leva a procurar algo lhes ligue à terra-mãe, sendo a morna é um desses elos. “Pelo que pude perceber, quando os cabo-verdianos emigram são tomados pelos sentimentos de saudade, nostalgia. É a partir daí que surge neles um interesse particular pelo seu país, pela sua cultura, e a morna é o que melhor exprime esse sentimento, esse estado de alma que tem a ver com a distância e a separação. A morna é sentida mais quando se está longe da casa, dos familiares”, finaliza.
Em relação ao seu estudo, Kay Aoki afirma que o seu interesse particular é saber como é que a morna está a desenvolver-se. “Durante seis meses, através de várias entrevistas, quis saber junto dos músicos que compõem ou interpretam a morna, e também junto das pessoas comuns, como é que eles vêm, vivem e sentem este género de música”.
Se as entrevistas permitiram a este académico uma percepção sobre o “sentir” da morna, Aoki não diz o mesmo em relação aos documentos, pois há poucos estudos sobre o principal género musical cabo-verdiano, o que não deixa de ser um paradoxo e um desafio para os académicos cabo-verdianos. “Porém, longe de me desmotivar, este facto acabou por se tornar na motivação principal para eu fazer um estudo acerca da morna e da sua crioulização”, afirma Aoki. “Com o meu trabalho espero contribuir para um melhor conhecimento da morna, sobretudo agora que se fala na sua elevação a património da humanidade pela UNESCO”.
Este investigador afirma ainda que o facto de a morna revelar o que define os cabo-verdianos, por falar de sentimentos, saudade e vivência desse povo, torna ainda mais importante o seu valor espiritual e cultural.
Morna: tradicional versus moderno
Durante as pesquisas que realizou no terreno, Kay Aoki diz que conseguiu identificar dois tipos de morna: uma tradicional e outra moderna. “Das entrevistas que fiz com várias pessoas fiquei a saber que o essencial da morna não se perdeu, manteve-se através dos sentimentos. Temos o exemplo as palavras saudade, morabeza e cretcheu que, de certa forma, se mostram sempre interligadas”, aponta.
De acordo com Aoki, a saudade é um sentimento que marca a emigração, “seja ela pelo cretcheu (amor) ou pela morabeza”, já que a nostalgia que se nota nas letras da música é algo “muito forte e profundo”. “Realmente, a morna define bem a identidade dos cabo-verdianos”, frisa.
Aoki define os dois conceitos: morna tradicional e moderna, devido às misturas que vem identificando ao longo de suas pesquisas. “Pelo que pude perceber, os cantores ou intérpretes podem até cantar as mesmas composições, com fusões e outras soluções, mas, musicalmente falando, a essência mantém-se, e isso é bom porque dá espaço para que a morna seja trabalhada, mesmo que numa outra perspetiva, através de uma versão moderna, se se quiser”, explica, acrescentando que é comum perceber a introdução do jazz nalgumas das canções que estudou, o que por si atesta a plasticidade musical da morna.
Apesar de constatar tal facto, este estudioso da morna, vindo do outro lado do mundo, diz que encontrou muitos cépticos entre os tradicionalistas que são contra a “modernização” da morna. “Há músicos que não gostam de misturas, consideram que resultado disso não é morna, contrariamente aos mais jovens, que se mostram dispostos a partir da morna tentar outras soluções”.
E acrescenta: “Em qualquer parte do mundo, e Cabo Verde não foge á regra, é normal essa tendência, aliás, é interessante uma vez que dessa forma a morna está a desenvolver-se musicalmente. Esses jovens inovadores trazem as influências das outras realidades culturais e, pouco a pouco, acabam por se juntar com a morna, sem que esta perca a sua essência”.
Sentimento nostálgico
Kay Aoki diz que ao longo do seu trabalho deu-se conta da nostalgia que a morna faz as pessoas sentir. Por essa razão, e por gostar de trabalhar temas muito diferentes da sua cultura, escolheu justamente a morna, e justamente Cabo Verde, para perceber de onde vem todo esse sentimento ancestral.
Essa vontade surgiu ainda mais depois que, em 2008, conheceu em Coimbra, Portugal, muitos estudantes cabo-verdianos, na sua maioria jovens, que lhe falaram sobre esse género musical. “Foi aí que definitivamente a morna conquistou meus ouvidos e o meu coração”, confessa.
Segundo Kay Aoki, os seus entrevistados atestam que quando os cabo-verdianos estão fora do arquipélago natal são tomados por um sentimento que os leva a procurar algo lhes ligue à terra-mãe, sendo a morna é um desses elos. “Pelo que pude perceber, quando os cabo-verdianos emigram são tomados pelos sentimentos de saudade, nostalgia. É a partir daí que surge neles um interesse particular pelo seu país, pela sua cultura, e a morna é o que melhor exprime esse sentimento, esse estado de alma que tem a ver com a distância e a separação. A morna é sentida mais quando se está longe da casa, dos familiares”, finaliza.
fonte: A Nação
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